Depois de alguns afazeres inadiáveis, eis que surge o tempo para escrever umas palavras sobre um artista com A – Germano Silva.
Desloquei-me à Califórnia entre 10 e 31 de julho para participar no Centenário das Festas do Espirito Santo de Gustine (GPS – Gustine Pentecost Society) e completar a recolha de elementos para o livro do centenário. Além disso, vi muitos amigos e conhecidos. Foi a convite do Padre Joe Ferreira Moreno, com a organização de Euclides Álvares, que juntamos no Restaurante “Grill de São José”, propriedade de um terceirense (Luís), os amigos Miguel Canto e Castro, José Ávila e esposa, Vital Marcelino, Germano Silva, João Pires, eu e minha mulher.
Foi um dia inesquecível. Começamos por reunir alguns amigos no mesmo transporte a caminho de São José. Nesta cidade, de forte presença açoriana, visitamos a linda Igreja das Cinco Chagas, centenária, o estabelecimento do açoriano Sr. Furtado, falecido recentemente, e almoçamos no referido restaurante, onde desfrutamos de uma simpatia açoriana.
De seguida, a comitiva deslocou-se a casa de Germano Silva, onde, para espanto meu, fui encontrar um artista em ourivesaria, joalharia e relojoaria como nunca vi nada igual. Nesta área não é fácil igualar, mas mesmo noutras áreas do conhecimento não me lembra, em 57 anos, de ter visto nada onde tenha tanta “massa cinzenta” aplicada. Convém salientar que fomos muito bem recebidos e tratados.
Germano Silva, natural do Topo, ilha de São Jorge, Açores, é oriundo da família Brasil, que muitos artistas tem dado ao mundo. Aliás, seu tio, João Brasil foi o seu mestre e considera-o o maior artista que viu na sua vida. Viveu na Terceira algum tempo. Emigrou para a Califórnia em 1967, onde vive em São José. Foi nesta cidade que aprendeu a lapidar diamantes, a trabalhar joalharia e ourivesaria em máquinas sofisticadas. É duma simplicidade genuína e pura que encanta qualquer interlocutor. Possui a 4.ª classe mas os seus conhecimentos matemáticos estão muitos graus acima. É um apaixonado por máquinas e admira quem as inventa, e é um conversador nato.
Germano Silva já foi notícia nos jornais “Tribuna Portuguesa”, publicado na Califórnia, no “Diário Insular”, publicado em Angra do Heroísmo, no “Público, publicado em Lisboa, nos canais de televisão NBC e KUMV-TV, entre outros, para além da inserção no livro “História do Tempo em Portugal”, da autoria do jornalista Fernando Correia de Oliveira. Só falta publicar-se um livro da sua rica biografia.
Os trabalhos deste artista são muito e variados, principalmente na área da ourivesaria e joalharia, mas é na relojoaria que criaram notoriedade, pela beleza, precisão, técnica, bom gosto, e acima de tudo, arte que os relógios encerram. O seu primeiro e grande trabalho, visível à distância, é um relógio, único no mundo, que foi convidado para estar em exposição na Câmara Municipal de Angra do Heroísmo. O seu segundo, entre muitas outras peças de dimensões diferentes, foi um relógio com cerca de 2,5 metros de altura, 300 quilos, 135 rodas, 16 mostradores, 1 em cada face, mais 12 na frente, com horas de diferentes países, e que tem uma técnica montada para as datas dos meses de 30, 31, 28 e até 29 dias, precisão que eu só conheço nos sistemas digitais. Um terceiro relógio está em execução e a técnica já montada neste supera os anteriores, por aquilo que nos foi dito e vimos. Dizer mais o quê sobre esta “cabecinha” e mãos prodigiosas?
Germano Silva tem algumas dúvidas sobre a estima e valor que os “seus herdeiros” possam dar aos seus trabalhos. Fala em ofertas avultadas que já teve para algumas das suas obras, únicas no mundo, mas que optou por não se desfazer delas. Sem me pedir, dei-lhe a minha opinião: as obras, que eu vi, são de valor incalculável; devem ser colocadas num local, vendidas ou não (não é esta a parte importante), onde seja garantido a sua eterna visualização pelas gerações futuras; são obras tão importantes para a humanidade que não devem ficar restritas a uma família.
Obrigado Germano por nos deixares tão enorme legado. Orgulhas os Açorianos e a nossa Diáspora. Força e um abraço de muita saudade.
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